O fanático político, o preterido na promoção, o ex-empregado vingativo — como lidar com estes e outros tipos da fauna corporativa
Júlia Zillig
Ilustrações: Negreiros
Os funcionários podem tanto trabalhar a favor do sucesso da empresa, como, ao contrário, ser capazes de minar o negócio. Nunca se deve ignorar uma situação problemática no ambiente de trabalho. Quando um ou mais funcionários se metem em encrenca, o empreendedor tem que encarar de frente a questão. Você verá a seguir como enfrentar dez situações delicadas que envolvem colaboradores.
OS APAIXONADOS
A companhia deve incentivar os seus funcionários a falar a verdade em uma situação dessas. Esta é a melhor saída para ambas as partes, pois a empresa conta assim com algum domínio sobre a situação e pode dar um feedback ao novo casal, afirma Fernando Feitoza, superintendente comercial da consultoria Across. Se aceitar ficar com eles, é importante deixar claro sobre a importância do bom senso dentro do ambiente de trabalho, para evitar futuros conflitos com os demais da equipe. Ou seja, nada de privilégios profissionais nem amassos em público. Os parceiros devem formalizar que optaram consensualmente pelo relacionamento – o que evita futuros processos por abuso sexual. A questão se torna mais complexa quando envolve chefe e subordinado ou casos extraconjugais. Mesmo com uma equipe pequena, em casos como esse, um dos dois acaba deixando a empresa. O chefe deve administrar esse problema e aconselhar, num primeiro momento, essa mudança. Caso isso não aconteça, pode-se optar por ficar ou não com o casal, diz Feitoza. O TRAIDOR
Ana Maria Cadavez, sócia-diretora da Vitae Consulting, afirma que as informações trocadas pelos funcionários, em grande parte, não envolvem assuntos estratégicos, mas sim insatisfações e inseguranças pessoais a respeito da companhia. A maioria dos funcionários de uma empresa não tem a mínima ideia dos rumos que ela está tomando em relação a serviços, produtos, mercado, concorrência. Eles usam o canal para colocar seus dilemas pessoais. Para reduzir o burburinho, o empreendedor deve adotar uma política de gestão das informações que restrinja a circulação de comunicações confidenciais e ao mesmo tempo satisfaça os desejos de todos os funcionários. As empresas devem ter em mente o que pode ou não ser falado, que pessoas terão acesso às informações e quais serão as consequências em caso de vazamento de dados. Uma informação mal divulgada pode render efeitos catastróficos para os negócios, afirma o consultor Fernando Feitoza. Caso a política não surta efeito, aconselha Ana Maria, a saída é chamar o funcionário para uma conversa franca, tentar identificar suas insatisfações e decidir então se ele fica ou não na equipe. O VINGATIVO
Uma forma de prevenção contra agressões é continuamente dar feedback a todos os colaboradores e prepará-los para o desligamento. Muitas empresas deixam aquele funcionário que achava que estava fazendo tudo certo sem a menor ideia do que causou o desligamento, afirma Ana Maria. Quando o processo é feito de maneira injusta, a voz do funcionário desligado encontrará eco entre os demais, afirma Fernando Feitoza, da Across. Agora, se mesmo assim o profissional continuar procurando encrenca, a saída é buscar uma empresa especializada em segurança e, em alguns casos, a polícia. O INJUSTIÇADO
As empresas devem explicitar o que elas esperam de um funcionário para oferecer a promoção, afirma o consultor Fernando Feitoza, que atribui à própria companhia a raiz deste tipo de problema. Quando há regras claras nos processos de promoção, há pouca discordância, reforça Ralph Chelotti, da ABRH. Quando o promovido passa a ser o gestor direto daquele que se sente injustiçado, a questão fica ainda mais delicada. É necessário haver uma conversa aberta, porém cuidadosa, entre as duas partes, para que ambos possam tentar um entendimento, diz Feitoza. A empresa deve explicar as razões da promoção e oferecer aos que se sentem preteridos um plano para o desenvolvimento de suas habilidades. OS CARREGADORES DE PIANO
Todos os profissionais hoje querem qualidade de vida. Desejam conciliar a família, a academia, os estudos, os momentos de lazer com suas obrigações de trabalho. Se há necessidade de tantas horas extras, é sinal de que está faltando contratar gente. Um planejamento adequado, uma revisão nos processos de trabalho e até mesmo um rodízio entre os empregados são ações que ajudam a reduzir esse tipo de conflito, afirma Ana Maria. O MALANDRO I
Se o deslize for leve, a empresa pode dar uma advertência ao funcionário. Agora, se a profundidade da ocorrência for maior, é importante que o empresário busque aconselhamento, seja com seus sócios ou até mesmo chamando um consultor ou investigador externo. O MALANDRO II
O DEPENDENTE QUÍMICO
É importante conversar com o empregado e a família, além de mantê-lo afastado no período de recuperação, caso seja necessário, segundo Ralph Chelotti. A empresa deve cogitar a possibilidade de pagar o tratamento. Para Ana Maria, se a terapia não tiver sucesso, o funcionário pode ser demitido. Os dependentes que não se reabilitam faltam sempre, não cumprem tarefas, etc. O FANÁTICO
Quando os exageros começam a afetar o ambiente de trabalho, é hora de a empresa ligar o sinal amarelo. As pessoas assediadas têm todo o direito de protestar, diz Ralph Chelotti, presidente da ABRH. A empresa tem que conversar com os funcionários para que separem suas convicções pessoais das questões de trabalho. Uma solução interessante é quando a empresa encabeça as discussões sobre política, raça, credo, etc. Há companhias que promovem cultos ecumênicos, atividades multiculturais, debates, o que inibe qualquer movimento voltado para o sectarismo, diz Chelotti. O DESLUMBRADO
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