Shopping, internet, loja de rua ou bairro temático? Antes de tomar sua decisão, descubra quais os prós e contras de cada ponto de venda
R: Você decidiu abrir uma empresa. Já fez uma pesquisa de mercado, estudou o ramo em que irá atuar, sondou a concorrência e montou um plano de negócios. Agora falta tomar uma das decisões mais importantes: escolher o ponto ideal. Muitos empreendedores colocam tudo a perder por não dar a devida atenção a essa questão. O sonho da administradora Fabiana Neves, 33 anos, era ter uma loja de acessórios femininos. Em 2003, montou a Pink Bijoux, em São Paulo. “Escolhi uma rua movimentada, próxima ao metrô Tucuruvi. Havia um supermercado perto, com estacionamento grátis. Mas, poucos meses depois, o estacionamento passou a ser pago. Percebi também que o poder aquisitivo dos consumidores do bairro era baixo. Em um ano e três meses, fechei as portas”, diz. Segundo Wlamir Bello, consultor do Sebrae-SP, erros como esse são bastante recorrentes. Para evitá-los, é preciso conhecer bem a clientela, escolher um lugar de fácil acesso e analisar as condições do imóvel. Veja a seguir as dicas de especialistas para tomar a melhor decisão.
NO SHOPPING
O número de centros de compra no país não para de crescer. Até o final de 2011, 34 novos empreendimentos devem ser inaugurados, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Diante da expansão, tem muita gente sonhando em se instalar ao lado de uma praça de alimentação. Entre as vantagens estão o elevado fluxo de potenciais consumidores e as comodidades oferecidas aos clientes, como estacionamento, segurança e banheiros. Mas o empresário precisa ter em mente que os custos são altos: além do aluguel, é preciso pagar condomínio e taxas de publicidade. “Com uma boa dose de conforto e um mix equilibrado de lojas, os shoppings caíram no gosto do brasileiro. Mas quem opta por essa alternativa precisa analisar se as vendas vão compensar os gastos”, diz Wlamir Bello, do Sebrae-SP. Segundo o consultor, nem sempre o movimento corresponde às expectativas do empresário. Por isso é fundamental fazer uma pesquisa com os lojistas e se informar sobre as características dos frequentadores, como faixa de renda e perfil social.
Quando decidiu montar a Chopping, em 1993, o empresário Roberto Luperi, 51 anos, sabia que a escolha do ponto era crucial para o sucesso da choperia. Depois de um longo estudo, chegou à conclusão de que a melhor alternativa seria instalar-se no shopping Tamboré, em São Paulo. “O investimento foi alto, mas achei que valia a pena”, diz Luperi. “Era melhor do que correr o risco de não ter clientes. Logo na primeira semana, já conseguimos lotar a casa.” Segundo o empresário, sua principal preocupação é fazer a clientela entrar e permanecer no restaurante. “Na rua, se a espera é grande, a pessoa já parou o carro e acaba ficando. No shopping, quando há espera ou o atendimento não é satisfatório, o consumidor vai para o vizinho.” Hoje, Luperi é dono de cinco negócios voltados para o setor de alimentação, todos em shopping. Para este ano, prevê um faturamento de R$ 6 milhões.
FIQUE ATENTO > Verifique a localização exata do ponto: em certas “ruas” do shopping, o movimento é bem menor, daí o investimento pode não compensar. Uma boa ideia é ficar próximo a lojas de marcas famosas, praças de alimentação e grandes magazines.
NA RUA
A principal vantagem dessa opção é poder controlar as normas de funcionamento. “Em um shopping, o empreendedor deve seguir uma série de regras, como abrir aos domingos e feriados, respeitar ações publicitárias e participar de promoções”, diz Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio. “Na rua, ele tem mais liberdade para agir de acordo com sua própria conveniência. Em geral, os custos também costumam ser mais baixos.” Antes de tomar a decisão final, estude o perfil das pessoas que frequentam a região, observando o movimento em horários e dias diversos. Veja ainda se há lugar para parar o carro — se não houver, faça um convênio com estacionamentos próximos.
Antes de abrir uma franquia da Purifique, especializada em filtros, no bairro de Santana, em São Paulo, Julia Nakai, 59 anos, realizou uma pesquisa de mercado detalhada. “Ficava horas na calçada, verificando quantas pessoas passavam, se havia segurança e se o acesso era fácil. Dessa maneira, pude antecipar como seria minha clientela.” Há dois anos, a empreendedora montou na mesma rua uma unidade da franquia Takitá Milk Shakes. “Já estava familiarizada com o bairro e sabia que faltavam lanchonetes. Foi a minha chance de ampliar a área de atuação.”
Uma providência importante antes de comprar ou alugar o imóvel é verificar na prefeitura se não existe projeto de desapropriação ou mudança de sentido de via. “Isso evita ser pego de surpresa com um aviso para deixar a área, ou então ter as vendas prejudicadas por mudanças no tráfego”, diz Carvalho. Vale a pena ainda checar quem são seus vizinhos: se houver incompatibilidade entre os produtos que vocês oferecem, isso pode afastar a clientela. Uma butique sofisticada não deve ficar ao lado de uma peixaria, por exemplo. Estar próximo a padarias, pontos de táxi, correio, banco 24 horas e supermercados pode ser interessante.
FIQUE ATENTO > Nem sempre grandes avenidas, com elevado fluxo de veículos, são bons pontos de venda. Pelo contrário: pode ser difícil encontrar um lugar para estacionar. Tenha em mente que os clientes buscam comodidade e segurança na hora de fazer as compras.
NA INTERNET
Em 2010, o comércio eletrônico no Brasil teve uma taxa de crescimento de 35% em relação a 2009, segundo estimativa do instituto de pesquisa e-Bit (leia mais no quadro da página anterior). O aquecimento do setor faz com que muitos empreendedores decidam partir direto para a loja virtual. Eles levam em conta certas facilidades, como não precisar escolher a localização nem gastar com aluguel e vendedores.
Outro ponto positivo é poder atingir um maior número de consumidores e concorrer de igual para igual com empresas de grande porte. É preciso lembrar, porém, que o empresário será obrigado a criar estratégias de marketing para ser “encontrado” pelos internautas. “Na rede não tem ponto de venda, mas isso não significa que o negócio não precise ser visto”, afirma Gerson Rolim, consultor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. “Aos olhos dos usuários, o que não aparece na busca do Google simplesmente não existe. Por isso, é fundamental criar ações para se tornar conhecido. Invista nos buscadores, seja com compras de links patrocinados ou fazendo SEO (Search Engine Optimization), estratégia que deixa o site mais bem posicionado nas buscas.”
O e-commerce ainda estava bem no começo quando Douglas Pedrosa, 43 anos, decidiu montar em 2000 a loja virtual Uniflores. Sua intenção era oferecer ao consumidor um serviço que funcionasse 24 horas, sete dias por semana. Segundo Pedrosa, o principal equívoco de quem abre uma empresa na web é imaginar que ela exige menos cuidados do que um comércio tradicional. “A plataforma de vendas pode ser on-line, mas por trás existe sempre uma operação real, com funcionários, equipamentos e exigências legais”, diz. “Outro erro comum é não identificar qual o seu nicho de mercado”, afirma. Ainda de acordo com Pedrosa, os links patrocinados e anúncios pagos são uma boa forma de atrair novos clientes, mas é importante também focar na propaganda boca a boca. “Se você oferece um serviço de qualidade, é natural que as pessoas indiquem o site a amigos e conhecidos. Assim se torna mais fácil formar uma rede de consumidores fiéis”, afirma o empresário.
FIQUE ATENTO > O site precisa ter uma boa apresentação e ótima navegabilidade. O empresário também não pode se descuidar da logística. Numa loja virtual, o raio de abrangência é bem maior do que o de lojas comuns. Cumpra prazos de entrega e procure fazer parcerias com meios de pagamento seguros, para garantir o sucesso das transações financeiras.
PEGN – por Ana Cristina Dib